DROGAS PARA QUÊ? UMA CAMPANHA DO BLOG SÃO RAFAEL
RELATO DE UM JOVEM DEPENDENTE DO CRACK

Angelo Pugliese, 29 anos, vendedor: “tentei matar o meu irmão” (Foto: Fernando Moraes)
“Depois de uma década usando cocaína, conheci o crack em
2007, quando tinha 27 anos. Não sentia vontade de fazer mais nada a não
ser usar a droga. Fumava inclusive no trabalho. Nessa época, eu morava
em Itu (SP) e era técnico em uma fábrica de sucos. Consumia trinta
pedras num dia. Gastava de 5 a 10 reais em cada uma. Cheguei a estourar o
cheque especial em cerca de 7 000 reais.
Como faltava muito ao emprego, fui demitido e minha família me internou numa clínica.
Fugi depois de três dias. Quando voltei
para casa, meu irmão e minha mãe me expulsaram (o pai deixou a família
quando ele tinha 11 anos). Fui morar com um primo em Guarulhos. Não
demorei muito para frequentar a Cracolândia. Ali, vivia perambulando
pela rua e conseguia dinheiro como flanelinha. O mais importante era
fumar e acalmar a fissura.
Depois de dois meses em São Paulo,
voltei para minha casa em Itu. Peguei um cartão de crédito e comprei
umas coisas nas Casas Bahia para trocar por droga. Nesse dia de
paranoia, tomei álcool com energético misturado a várias drogas. Com
raiva do meu irmão, que tinha me expulsado de casa, tentei matá-lo. Fui
levado para a delegacia e depois me senti muito envergonhado. Decidi
então me internar. Fiquei 52 dias e acabei de deixar a clínica (ele saiu
no último dia 18).
Estou limpo há dois meses e arrumei um
emprego como vendedor numa loja de motos. Por saber que tenho uma doença
progressiva, incurável e fatal, frequento reuniões de grupos de
dependentes anônimos. Não me considero recuperado, mas sim em
recuperação. O mais importante é que meu irmão me perdoou.”
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